• 21 Junho, 2016 às 14:52

    Há sempre novas tendências nas drogas. O que está a dar agora na América e Reino Unido são as drogas com prescrição médica, tipo xanax, xarope para a tosse, vicodin, os “pain killers”, relaxantes musculares, ritalina. O que está a dar agora é o LEAN, que é misturar codeína com opiáceos e meter sprite, é uma bebida usada pelos rappers. É uma bebida roxa com mesmo bom aspeto. É conhecido também como purple drank. As drogas são uma coisa que está na moda.

     

    O TABACO foi das primeiras coisas que comecei por experimentar por volta dos 14/15 anos. Eu e os meus amigos começamos a vir para o Porto andar de Skate. No início era só de tarde mas, depois, passávamos o dia todo no Porto, a Skatar e a passear.

    Um dia um amigo nosso veio com um maço de tabaco e perguntou: Vocês querem fumar? E nós tipo “cala-te”, tu pensas que és badboy!

    Mas depois começamos a fumar e a comprar, comprava um maço para mim, havia quem dividisse. Foi tabaquinho para toda a gente, depois HAXIXE, ERVINHA quando o pessoal tinha mais posse. Depois houve tipo, um clarão e não sei como é que isto escalou assim tão rápido.

    Numa festa de ano novo, no Hard Club, um amigo disse que tinha um contato para arranjar SPEED. Ele já tinha antecedentes e sempre foi, no nosso grupo, o mais conhecedor. Era uma festa de Drum, e ele chegou lá dentro e arranjou 2g de speed. Foi a primeira vez que experimentei e, sinceramente odiei, não curti, mas mandei muito mais vezes misturado com outras cenas.

    Eu só cheirava, não fumava, tirando uma vez que fumei COCA. O pessoal era todo minado e dizia: Oh mano, tu a cheirar isso lixa-te a narina toda. E eu ficava tipo “vai de qualquer maneira, eu prefiro que bata já, não vou ficar aí 15 minutos a mandar uma bombinha e ficar à espera que bata”.

    Chegou a um ponto em que acabamos por parar de andar de skate, íamos para o Porto só para fumar. Eu ia a festas de Drum&Base, Transe, Tecno mas minimal, no Hard club, Porto Rio, Gare, Armazém do Chá.

    No 12º ano comecei a ir a festivais mais pesados, de 3/4 dias, em que passava os dias sem dormir. Basicamente era ficar na tenda a cheirar-me todo, sair da tenda para ir dançar, chegar à tenda e cheirar mais, MD. A minha droga de eleição é o MD, eu amava toda a gente, falava com toda a gente, sentia-me um super guerreiro! Eu era o Dragon Ball, o Sun Goku, super guerreiro IV! O meu queixo andava ali a traulitar, sempre com aquela estrica e, no dia a seguir, era aquela ressaca em que, basicamente, só me apetecia chorar, sentia-me a pior pessoa do mundo, parecia que me esgotava a dopamina toda do corpo. Depois de um festival eu não sabia onde me havia de meter, só pensava where do we go from here?

    Considero que até nem foi uma fase muito agressiva. Era festas e festivais. Nunca tirei más notas mas, simplesmente, não ia às aulas e reprovei por faltas. Ficava em casa só a fumar haxixe e a ver South Park. Fumava, mais ou menos, uns 10 charros por dia, o tabaco era só para fumar ganza.

    Houve uma festa de S. João em que eu andava a vender ÁCIDOS. Comprei uma placa, uma folha e andava a vender lá dentro. Mandei um antes de entrar para a festa de transe e vinha o pessoal ter comigo, pediam meio e mandava o outro meio. A meio da festa já tinha mandado 6 selos. Nunca curti tanto na minha vida. Estava sempre com o meu melhor amigo e vimos um gajo que disse que tinha um laboratório de ANFETAMINAS em casa e deu-nos uma garrafa com um cristal lá dentro, a garrafa estava cinzenta e eu bebi-a toda. Fomos para a casa de banho e cheiramos mais MD, foi neste momento que eu senti o pico da moca. Voltei para dentro da festa e acho que nunca tinha dançado tanto! Eu já não sentia a dor, já não sentia nada, olhava para as luzes, e estava meio alheado, a curtir imenso.

    A dada altura entrei em parafuso e em bad trip porque vi o meu amigo muito mal. Comecei a pensar “se ele está assim como é que eu estou”. Tentei controlar-me até ao final da festa mas quanto mais se tenta controlar a moca pior é. Saí e estava com os cantos da boca todos brancos, o queixo todo destruído. Já tinha pensado nos consumos mas tipo fuck it!

    Contei à minha mãe e ela, no dia a seguir, levou-me a uma clínica de reabilitação, a Clínica do Outeiro. Ainda estava com aquela ressaca, olhava ao meu redor e era tudo muito estranho, só me apetecia chorar e andar ao testo a tudo, revoltado comigo, obviamente. Não fiquei internado porque não ia ficar para estar em contato com aquilo que me faz mal, preferi estar com a minha família.

    Conheci a minha namorada nas férias quando fui acampar com a minha família e dei uma volta de 180 graus. Falei com o meu amigo e ele quis continuar na vida em que estava. Foi uma escolha muito difícil mas nesse momento era ele ou eu. Comecei a ir para a piscina, a tirar notas acima dos 16, continuei a ter contato com os meus amigos, a ir para o Porto beber um copo mas sem consumos. Eles queriam fumar, tudo bem, e até me diziam “oh mano fazes bem”.

    Como ia para a faculdade para o ano pensei que podia divertir-me um bocadinho nas férias. Comecei a dar-me com os meus amigos, a fumar meio conto por noite, a fumar um bruto de 10 paus por dia, mais ou menos 15 charros por dia. Não fumava para me bater, eu gostava mesmo de fumar com os meus amigos. Não gostava propriamente do sabor, porque ninguém adora o sabor a terra, ou ficar com fome, ou todo seco. Eu ia sempre ao meu dealer que já sabia o que eu queria e tinha um amigo que me arranjava MD e outro que vendia ácidos.

    Todos os dias fumava ganza, ácidos dia sem dia não e MD sexta e sábado. Cheguei a pesar 55 kg, era basicamente um cadáver. O Verão foi muito agressivo! Era papar ácidos, MD, chegava à segunda-feira e eu estava à espera da moca de sexta, era uma rotina. Basicamente dormia de dia. Foi o pior tempo da minha vida, só três meses mas com uma intensidade tão grande que ainda hoje sinto as mazelas e não sei se algum dia elas vão desaparecer. Eu era uma pessoa eloquente, articulado, conseguia manter uma conversa horas a fio e agora parece que encrava, não sei se é um bocado a paranóia.

    Entrei para a faculdade e pensei, hoje vou-me despedir das drogas e vou mandar um selo. Comprei um a um amigo que estava a vender selos da deepweb e andei a noite toda à procura do meu cérebro! Não consegui disfrutar, aquilo foi tão intenso que parecia estar a ascender, que estava numa bolha, sabia que estava no chão mas os meus músculos pareciam levitar, comecei a alucinar e a ver grafittis nas paredes. Foi uma cena totalmente fora. Bati muito mal. Fechava os olhos e conseguia continuar a ver as luzes da rua. Liguei à minha namorada e pedi que me acalmasse mas fiquei muito assustado. No dia a seguir senti tudo estranho à minha volta, não conseguia falar com as pessoas, dizia coisas muito simples e desconexas. Isso assustou-me imenso, fiquei com muito medo de ficar assim para sempre, tipo o meu cérebro queimou.

    Fiz testes, fui ao médico, fui ver o que se passava com a minha cabeça, fui ver se alguma coisa dentro de mim estava mal, senão não conseguia descansar. Andei aí uns tempos basicamente sem sentir, eu não conseguia sentir o mínimo de felicidade. Há médicos que dizem que isto regenera há outros que dizem que não, entrei em paranóia, estava sempre a pensar a pensar, entrei em depressão, não conseguia dormir, comecei a tomar medicamentos mas parecia um zombie, fiquei uma semana sem conseguir sair de casa.

    Parei tudo e ainda foi pior! Andei uns meses mesmo muito mal, estava sempre a pensar na mesma coisa, sem conseguir dormir. Houve uma coisa que me marcou imenso, foi a minha mãe a dizer “tu eras um miúdo que estava sempre bem-disposto, a fazer piadas, a rir de alguma coisa que tinhas visto na internet e eu tenho saudades disso”. Percebi que ela tinha mesmo razão e fui para a cama com vontade de chorar e culpei-me por tudo, por ter feito aquilo tudo. E passado um mês a pessoa mais importante do mundo, a minha avó, disse-me a mesma coisa!

    Há um ano fiz a mudança 180 graus e pensei que também ia conseguir fazer agora, só que está a ser muito difícil. Não tenho tentação ou medo de voltar mas sinto que não tenho a mesma força de vontade, que não sou a mesma pessoa que era. Não sei se é paranóia, se daqui a uns anos vou ficar melhor e retomar a minha vida e ser minimamente normal, mas sinto que ainda estou muito frágil, que sou uma pessoa completamente diferente.

    Depois daquele ácido nunca mais toquei em nada. Até hoje é uma coisa que me mete muito medo. Tenho a perfeita noção de que o que fazia era só para me evidenciar. Era tipo mandaste um ácido, vou mandar dois, aquele mano fuma 15 cânhamos por dia, vou fumar mais. Nas redes sociais é só pessoal a meter fotos a fumar paivas, a ir às festas com aqueles olhos cintilantes e o pessoal pensa “se ele faz isto também quero experimentar ou quero ser como ele”. É tudo menos falta de informação. Em drogas pesadas eu divertia-me imenso, a droga é fixe, faz sentir mesmo bem, apesar de fazer mal.

    Depois duma pessoa experimentar é um percurso para toda a vida. As pessoas dizem que se aprende com a experiência mas eu preferia não ter tido essa experiência. Não decidi nada aos 14 anos, foi como diz a música dos Queens of the Stone Age “go with the flow”. Se pudesse dar um conselho aos jovens seria, não faças isso porque os teus amigos vão fazer, porque achas vão gozar contigo! Há muita gente que pensa como tu pensas. Sempre tive aquele medo de achar que vou ficar sozinho, sentir que não faço parte de nada e muitas vezes com as drogas sentia, hoje em dia preferia não ter feito parte de nada.